Lesoto decreta recolher obrigatório nocturno para estancar crescente criminalidade

O Reino do Lesoto decretou o recolher obrigatório nocturno, após um proeminente jornalista de investigação ter sido morto a tiro na capital, Maseru, por atiradores desconhecidos, na noite do último domingo.

Ralikonelo Joki foi assassinado pouco depois de ter saído da redacção da rádio privada Tsénolo FM, onde trabalhava. O director da estação, Mshengu Shabalala, disse que o jornalista foi atingido por dois tiros quando saía de carro junto das instalações da estação, segundo a imprensa local.

Joki, que era carinhosamente tratado por Qhashi ou Leqhashasha (um “diabo” que se preocupa), foi descrito por Marafaele Mohloboli – um colega que com ele costumava trocar notas sobre diversas histórias de investigação – como uma pessoa que tinha a missão de expor a corrupção no serviço público. Era considerado um “homem livre”, porque nem as ameaças nem a intimidação o conseguiam dissuadir de prosseguir uma história. E, nesse processo, fez inimigos e foi rotulado de pouco profissional pelos seus detractores.”

O Ministro responsável pelas forças de segurança, Lebona Lephema, num discurso transmitido pela televisão ontem, segunda-feira, disse que iria ser proibido circular na rua entre as 22H00 e as 04H00 a partir de terça-feira (hoje). Lephema afirmou que o recolher obrigatório tinha “por objectivo garantir o restabelecimento da ordem”, num contexto de escalada de casos de criminalidade no país.

O assassínio do jornalista provocou uma grande onda de indignação, tendo o Comité de Protecção dos Jornalistas apelado a uma investigação credível e à instauração de processos judiciais contra os responsáveis.

Nos últimos anos, vários jornalistas foram baleados, agredidos ou fugiram do Lesoto devido a ameaças por causa do seu trabalho.
Em 2016, um grupo de soldados feriu Lloyd Mutungamiri, então editor do Lesotho Times, dias depois de o seu jornal ter publicado um relatório em que tecia duras críticas às forças de defesa.