Angolanos homenageiam mártires da Baixa de Cassanje

O secretário de Estado dos Antigos Combatentes e Ve-teranos da Pátria, general Domingos André, preside, hoje, na sede municipal do Quela, a 115 quilómetros a nordeste da capital da província de Malanje, ao acto central das celebrações do 4 de Janeiro.
A data homenageia os mártires da Baixa de Cassanje, que, em 1961, se revoltaram contra o sistema colonial português por não suportarem mais as condições de trabalho impostas pela companhia de exploração de algodão, a Cotonang, numa acção que ficou conhecida como o grande massacre da Baixa de Cassanje.
De acordo com o director do Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, Ananias Gomes, que confirmou o facto ao “Jornal de Angola”, o acto vai ser antecedido da deposição de uma coroa de flores no Cemitério Monumento localizado na aldeia de Teka dia Kinda, ao que se seguirá o acto político na sede do município, para além de actividades culturais e desportivas.
Ananias Gomes disse à reportagem do Jornal de Angola que a realização do acto no município do Quela representa o reconhecimento que o Governo central tem sobre a data e da valorização do esforço que aquele grupo de nacionalistas resistentes apresentou ao desafiar o sistema colonial português, não temendo a repressão e preferir mesmo entregar a vida contra o trabalho forçado a que eram submetidos. “Esse acto vai mais uma vez mostrar que as populações da Baixa de Cassange não estão esquecidas, esforços serão feitos para que haja um reconhecimento à dimensão do acontecimento”, disse.
O munícipe Samuel Lourão, que por altura dos acontecimentos do 4 de Janeiro de 1961 era adolescente, realçou a construção de novas infra-estruturas com destaque para as escolas na sede municipal e noutras localidades que configuram a região, valorizando desta feita a importância daquela região histórica de Malanje.
Por seu turno, Bernardo Dala disse que apesar das dificuldades de ordem conjuntural, é visível o esforço do Governo na resolução dos principais problemas da população.
“Estamos a testemunhar a construção da estrada, o Governo está a colocar em muitos bairros escolas e postos de saúde, o que dignifica a vida dos munícipes”, disse.
Túmulo dos Mártires pode ser património histórico
O governador provincial de Malanje, Marcos Nhunga, destacou os esforços do Governo para a elevação do cemitério de Teka dia Kinda, a 12 quilómetros da sede do município do Quela, onde jazem os milhares de mártires da repressão colonial de 1961, a património histórico e cultural.
Marcos Nhunga fez esta revelação no discurso de cumprimentos de fim-de ano, destacando igualmente a classificação da reserva integral do Milango como um outro património histórico-cultural.
Marcos Nhunga manifestou, recentemente, no município do Quela, a pretensão da transformação dos túmulos dos heróis da Baixa de Cassanje, na localidade de Teka dia Kinda, em ponto turístico, histórico e cultural, visando honrar a memória dos milhares de camponeses mortos pelo regime português com bombardeamento aéreo, por reivindicar o trabalho forçado e baixo preço do algodão, na então Companhia Luso-Belga Cotonang.
O governante fez este pronunciamento no termo de uma visita ao cemitério dos mártires da repressão colonial, no município do Quela, onde constatou in loco a criação das condições para albergar o acto central do 62º aniversário do massacre da Baixa de Cassanje, que acontece hoje.
“Precisamos dar um valor acrescentado ao cemitério dos heróis da Baixa de Cassanje, por ser um local histórico-cultural do país, onde estão sepultados muitos daqueles que abriram caminho para o 4 de Fevereiro e para a conquista da Independência Nacional, a 11 de Novembro de 1975”, frisou.
Realçou que a concretização desse desiderato passa inicialmente em tornar o local num verdadeiro ponto histórico-cultural e de atracção turística, com a construção de estradas de acesso, visando atrair turistas nacionais e estrangeiros.
Marcos Nhunga assegurou a criação de condições para que a actividade decorra sem sobressaltos, destacando a criação de uma comissão organizadora integrada pelo administrador municipal do Quela, Pedro Dembue.
Em declarações à imprensa, o administrador municipal do Quela, reforçou que “parte da liberdade nacional dependeu do que foi a revolta contra a exploração colonial”. O 4 de Janeiro, disse, é uma data que os angolanos recordam o massacre da Baixa de Cassanje perpetrado em 1961, pelo regime colonial português contra milhares de cidadãos indefesos. Esse dia seria como qualquer outro do calendário litúrgico se não acontecesse nada na vasta região da Baixa de Cassanje, na província de Malanje.
Os acontecimentos, que tiveram lugar um pouco pelos municípios que hoje integram a Baixa de Cassanje, (Quela, Caombo, Cunda dia Base, Massango e Marimba) com maior incidência na localidade do Teka dia Kinda, no município do Quela, onde se reuniram mais de duas mil pessoas idas de todos os cantos do país, para manifestar o seu sentimento de revolta e dizer basta à exploração colonial portuguesa, marcaram para sempre e pela negativa, dada e a repercussão sentida pelo mundo fora.
Nesse dia do longínquo ano de 1961, foi protagonizado aquele que foi considerado o hediondo massacre pelo exército português contra camponeses por tentarem colocar um basta naquilo que consideravam uma escravatura desenfreada. O protesto, que teria uma solução pacífica, teve um desfecho triste, marcando, até hoje, a História de Angola. O facto repercutiu, igualmente, nas páginas noticiosas da imprensa internacional.
Foram mortos homens, mulheres e crianças, muitos deles enterrados em valas comuns. Outros aldeões foram levados para nunca mais voltarem ao convívio das famílias.