Mensagem do Executivo angolano em homenagem a Fernando da Piedade Dias dos Santos “Nandó”
Angola curva-se, com profundo respeito, à memória de um dos filhos mais dedicados de Angola e a quem a Pátria renderá eterno tributo e gratidão.
Leia na íntegra:
Num momento em que todos somos poucos para cristalizar os feitos do passado e reerguer uma Nação de que os seus filhos se orgulhem, a partida de Fernando da Piedade Dias dos Santos aos 73 anos no fatídico dia 18 de Dezembro de 2025 é, para o Executivo angolano, um golpe devastador, um forte abalo aos alicerces de um edifício que todos os dias se constrói com a contribuição e entrega de cada um dos filhos de Angola.
O percurso de Fernando da Piedade Dias dos Santos confunde-se com os momentos decisivos da nossa História contemporânea, como dirigente político, governante, partícipe do processo de paz e construtor de pontes.
Nascido em Luanda aos 5 de Março de 1952, Fernando da Piedade Dias dos Santos, filho de Custódio Dias dos Santos e de Catarina Inácio da Piedade Dias dos Santos, muito cedo abraçou a causa do nacionalismo e forjou as suas convicções políticas pela independência do jugo colonial, tendo-se juntado aos combatentes que, no dia 11 de
Novembro de 1975, proclamaram a Independência Nacional de Angola.
Em 1976, foi transferido das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), para o Corpo de Polícia Popular de Angola (C.P.P.A), onde faria carreira, passando por Comandante-Geral da Polícia Nacional, até exercer as funções de Ministro do Interior.
Das várias funções de elevada responsabilidade que exerceu ao longo de uma vida consagrada à Pátria, destacam-se a de Primeiro-Ministro, Vice-Presidente da República e a de Presidente da Assembleia Nacional por períodos intercalados, tendo demonstrado sempre um alto sentido de Estado, firmeza, respeito pelas instituições e fidelidade à Constituição da República de Angola.
Integrou a Comissão Conjunta Político-Militar (CCPM) e a Comissão de Assuntos Políticos, no âmbito da implementação dos Acordos de Bicesse e Coordenador da
Comissão Interministerial para os Acordos de Paz do Luena.
Desde cedo, Fernando da Piedade Dias dos Santos assumiu, com coragem e convicção, o compromisso com a libertação, a soberania e a afirmação do Estado angolano.
Pertenceu a uma geração que compreendeu que a liberdade não se herda: conquistase, defende-se e constrói-se com disciplina, sacrifício e abnegação a cada dia.
Pertenceu a uma geração que cedo apreendeu que a defesa da integridade territorial de Angola não se negoceia mas que se consagra como uma missão existencial de todos e de cada angolano, com a consciencialização do perdão, da inclusão e da coesão nacional, afastando o ódio e a vingança.
Era um homem afável e de trato fácil, sereno e firme, de gestos contidos e decisões ponderadas.
Acreditava que a autoridade do Estado se exerce com responsabilidade, diálogo, equilíbrio e respeito pelo interesse nacional.
Nunca procurou protagonismo pessoal, tendo preferido sempre o caminho da
discrição, do trabalho, da construção institucional sólida. Foi, por isso, um verdadeiro pilar da estabilidade política e institucional do país em momentos particularmente sensíveis da nossa História recente.
Fernando da Piedade Dias dos Santos acreditava que governar é, acima de tudo, servir. Servir com humildade, servir com empatia, servir com consciência de que o poder só tem sentido quando tem como objectivo melhorar a vida das pessoas.
Foi um verdadeiro homem de Estado, que acreditava firmemente que Angola só seria verdadeiramente forte se fosse una, inclusiva e solidária com os outros povos na construção de consensos, de paz e de reconciliação.
É nesse espírito que contribuiu para consolidar a cultura do entendimento, do respeito institucional e da convivência democrática, num país marcado por desafios profundos e pela necessidade permanente de reconciliação nacional.
A História de Angola reconhecerá em Fernando da Piedade Dias dos Santos um patriota de grandeza incomensurável.
Foi parte activa da construção do Estado moderno angolano, um defensor convicto da legalidade constitucional, da separação de poderes e da interdependência de funções, assegurando sempre o equilíbrio entre o Executivo e o Legislativo, um homem que sempre respeitou a hierarquia de funções e que muito cedo compreendeu que o futuro do nosso país depende da solidez do seu Estado e da confiança dos cidadãos nas suas instituições.
Seu nome ficará associado a uma geração que, com todas as dificuldades, soube colocar Angola acima de interesses pessoais, acima de ambições circunstanciais, acima de todo o tipo de divisões.
O seu maior legado não se resume aos cargos que ocupou, mas aos valores que defendeu, os da lealdade à Pátria, o respeito pelas instituições, o sentido de responsabilidade, a humildade no exercício do poder e o compromisso com o bem comum.
A sua partida física entristece-nos a todos, mas a sua obra, o seu exemplo e a sua memória elevam-nos enquanto Nação.
Hoje, não choramos apenas uma ausência, choramos a perda de uma vida inteira colocada ao serviço de um projecto colectivo chamado Angola e cria-se uma referência para as novas gerações que necessitarão sempre de um modelo para a defesa intrépida dos objectivos permanentes do Estado angolano.
A sua vida ensina-nos que o verdadeiro patriotismo se constrói com trabalho diário, com diálogo permanente, com coragem moral e com profundo respeito pelo povo que se serve.
Angola perde hoje um dos seus filhos mais dedicados, mas eterniza-se uma memória que ilumina o caminho do futuro.
O Executivo da República de Angola expressa a mais elevada homenagem a Fernando da Piedade Dias dos Santos.
Endereçamos à família enlutada, aos amigos, companheiros de luta e a todo o povo angolano, os nossos mais profundos sentimentos de pesar, solidariedade e respeito.
Fernando da Piedade Dias dos Santos viverá para sempre na História da República de
Angola, na memória do seu povo e na consciência da Nação.
Descanse em paz!