Empresas chinesas não pagam salários muito diferentes das outras na África Subsaariana

As conclusões de um novo estudo parecem contrariar as frequentes acusações de que as empresas chinesas pagam mal aos seus funcionários locais em África.

Carlos Oya, da Escola de Estudos Orientais e Africanos de Londres (SOAS), e Florian Schaefer, do Kings College de Londres, entrevistaram mais de 1400 trabalhadores angolanos e etíopes que nos seus países trabalham para empresas chinesas.

É opinião corrente que as condições dos trabalhadores locais das empresas chinesas a operar em África são, muitas vezes, precárias, mesmo quando não é claro o termo de comparação, com as condições em empresas estrangeiras congéneres”, escrevem Oya e Schaefer, no relatório.

Muitos dos estudos anteriores, basearam-se em amostras pouca representativas como um relatório de 2011 da Human Rights Watch sobre duas empresas mineiras chinesas que operam na Zâmbia, centrando a sua análise nas condições de trabalho e não nos salários. Embora as condições de trabalho sejam importantes e as más práticas devam ser denunciadas, os autores do estudo abordaram especificamente a questão salarial.

Oya e Schaefer inquiriram trabalhadores da indústria transformadora e da construção civil de empresas chinesas e de outras empresas estrangeiras em Angola e na Etiópia, bem como de empresas locais em ambos os países. Perguntaram não só quanto qual era o vencimento dos trabalhadores, mas também sobre as suas competências, educação, função e outros pormenores pessoais que podem, eventualmente, afectar a remuneração.

Os autores do estudo concluíram que os salários nas empresas chinesas eram ligeiramente mais baixos em alguns segmentos, por exemplo, entre os trabalhadores semi-qualificados da construção civil em Angola e os trabalhadores semi-qualificados da indústria transformadora na Etiópia. Mas o estudo concluiu que grande parte dessa diferença poderia ser explicada por discrepâncias específicas como a educação ou as competências dos trabalhadores. Não há “provas claras de que as empresas chinesas paguem consistentemente menos do que as outras empresas do mesmo sector nos mesmos países”, escreveram no estudo, publicado na revista World Development.

A constatação de que as empresas chinesas não são muito diferentes das outras, em situações semelhantes, tem implicações políticas importantes. Por exemplo, no sector da construção civil, em Angola, as empresas chinesas têm uma taxa de emprego de mão-de-obra local inferior à das empresas não chinesas: 71% contra 86%. No entanto, a análise mais aprofundada de Oya e colegas conclui que não existe uma explicação cultural ou inerentemente chinesa para este fenómeno. “As empresas chinesas estavam sujeitas a prazos particularmente rigorosos e a uma forte pressão para concluir os projectos, especialmente antes das eleições, dada a conveniência política associada ao processo de reconstrução nacional.”

Certamente que o estudo não absolve as empresas chinesas das irregularidades que possam ter cometido na África Subsariana, apenas trata dos salários em dois países. Mas é uma indicação de que a narrativa sobre as empresas chinesas que exploram os habitantes locais pode não ser tão escandalosa como se faz fazer crer.

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