Bispos angolanos apelam a vias de diálogo para solucionar crise moçambicana
Os bispos católicos angolanos manifestaram ontem, quarta-feira, dia 1, data em eu o mundo assinala o Dia da Paz, solidariedade ao povo e à igreja moçambicanos devido à crise pós-eleitoral neste país. Os bispos apelam para a abertura de vias de diálogo com vista a se “estancar a espiral de violência” que o país enfrenta, segundo refere uma nota da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST).
Na missiva endereçada aos bispos da Conferência Episcopal moçambicana, a CEAST manifesta solidariedade ao povo e à igreja moçambicanos, “novamente provados pela dor e angústia provocados por uma violência generalizada que ameaça a paz tão duramente conquistada por esta nação”.
Face aos relatos que chegam de Moçambique, na sequência da crise pós-eleitoral, “agravada com a publicação dos resultados eleitorais definitivos”, a CEAST une-se à voz dos bispos moçambicanos nos apelos para a “contenção da violência e a procura de soluções pacíficas duráveis que exigem a busca da verdade e justiça eleitorais”.
Abrir vias de comunicação é essencial
Os bispos católicos angolanos consideram que a actual situação de Moçambique perturba a “consciência colectiva como irmãos”, pelo que apelam às partes em conflito a “tudo fazerem para serenarem os ânimos” e “abrirem-se linhas de negociação para se estancar a espiral de violência que o país enfrenta.”
O apelo é igualmente lançado às organizações regionais e continentais, nomeadamente a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e a União Africana (UA). A CEAST pede para usarem os seus mecanismos de resolução de conflitos, de modo a exercer junto das partes desavindas “todos os esforços para o restabelecimento da normalidade democrática, sem descurar a vontade legítima expressa pelo povo moçambicano nas urnas”.
Na nota, assinada pelo presidente da CEAST, arcebispo José Manuel Imbamba, o colégio episcopal angolano propõe ainda uma jornada de oração pela paz em Moçambique nos dias 2 e 3 de Janeiro de 2025.
Protestos provocaram caos
Lembre-se que o Conselho Constitucional (CC) de Moçambique proclamou a 23 de Dezembro Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO, no poder), como vencedor da eleição a Presidente da República, com 65,17% dos votos, sucedendo no cargo a Filipe Nyusi, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar, nas eleições gerais de 9 de Outubro. Este anúncio provocou o caos em todo o país, com manifestantes pró-Venâncio Mondlane – candidato presidencial que, segundo o Conselho Constitucional, obteve 24% dos votos – a saírem às ruas em protesto. Os manifestantes colocaram barricadas, registaram-se actos de pilhagem e confrontos com a polícia, que tem vindo a realizar disparos para tentar a desmobilização.
Desde 21 de Outubro, quando começou a contestação ao processo em torno das eleições gerais de 9 de Outubro, o registo da plataforma eleitoral “Decide”, uma organização não-
governamental que acompanha o processo, contabiliza 277 mortos, 586 pessoas baleadas e 11 desaparecidos.