Emissões de gases devem cair 85% até 2035, refere relatório

As emissões globais de gases com efeito de estufa decorrentes dos estilos de vida devem cair 85% até 2035 para serem compatíveis com um aumento da temperatura até 1,5ºC, indica um relatório divulgado ontem, terça-feira, dia 7.

O documento analisou 25 países e concluiu que a média das pegadas de carbono relacionadas com o estilo de vida é sete vezes superior à meta de 1,5ºC (graus celsius).

Os autores avisam que países mais ricos, como os Estados Unidos, Austrália e Canadá, têm pegadas até 17 vezes maiores, o que implica uma redução de emissões até 94%. Os países mais pobres estão mais próximos da meta dos 1,5ºC do Acordo de Paris.

Há 10 anos em Paris, numa reunião da ONU sobre o clima, praticamente todos os países do mundo concordaram em tomar medidas para enfrentar o aquecimento global, diminuindo as emissões para que o aumento da temperatura global não ultrapassasse os 2ºC em relação à época pré-industrial, e de preferência não chegasse a 1,5ºC.

Os principais factores a contribuir para tão alta pegada estão o uso do carro e as viagens aéreas, e o consumo de carne, de vaca e porco, e de laticínios.

Os Estados Unidos estão em primeiro, com uma emissão por pessoa/ano que ultrapassa as 18 toneladas e que representa 17 vezes acima da meta dos 1,5ºC.

A Austrália, o Canadá, a Coreia do Sul, a Itália e a Alemanha estão também na lista dos maiores emissores. Numa segunda linha estão países como Portugal, Reino Unido, França ou Brasil, este com quatro toneladas de emissões por pessoa, quatro vezes acima do que deveria ser.

Elaborado pelo “Hot or Cool Institute”, da Alemanha, que explora a interceção entre sociedade e sustentabilidade, o documento destaca a necessidade de padrões de vida suficientes e de impostos progressivos globais sobre a riqueza, e limites de acumulação, para enfrentar as desigualdades climáticas impulsionadas pelo consumo excessivo.

Com o título “Um Clima para a Suficiência: Estilos de Vida de 1,5 Graus”, o relatório destaca também a magnitude das mudanças sistémicas e comportamentais necessárias na próxima década. E recomenda uma “abordagem de suficiência” – focada em atender às necessidades humanas sem excessos.

“O orçamento de carbono restante é agora tão pequeno que governos em todo o mundo enfrentarão uma escolha difícil: atender às necessidades sociais ou enfrentar os impactos das mudanças climáticas, a menos que medidas drásticas sejam tomadas com urgência”, disse, citado num comunicado sobre o relatório, Lewis Akenji, director executivo do “Hot or Cool Institute” e autor principal do documento.

Recordando a próxima cimeira da ONU sobre o clima, no próximo mês no Brasil (COP30), o responsável frisou que as negociações devem refletir “a urgência de evitar a ultrapassagem da marca de 1,5°C e as implicações significativas que esse limite teria para a vida quotidiana das pessoas.” E avisou que os governos se devem urgentemente comprometer a retornar ao limite de 1,5°C, com planos “concretos, verificáveis, vinculativos e com reduções obrigatórias também para empresas.”

E porque, disse, “o planeta está prestes a ultrapassar um limite crítico de aquecimento, são necessárias medidas mais radicais do que as implementadas até agora para garantir um futuro justo, seguro e próspero para todos dentro do limite de 1,5°C”.

Os autores do documento recomendam combinar mudanças nos estilos de vida, rápido desenvolvimento de tecnologias de baixo carbono e reformas sistémicas. Sugerem nomeadamente implementar impostos progressivos globais e limites de riqueza para enfrentar o consumo excessivo e a desigualdade, além de promover estilos de vida baseados na suficiência.

Recorda-se no documento que os 10% mais ricos da população mundial respondem por cerca de 50% dos gases de efeito estufa através de seus investimentos e consumo.

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