Governo militar do Burquina Faso suspende TV5 Monde por seis meses

As autoridades do Burquina Faso anunciaram, ontem, terça-feira, dia 18, a suspensão do canal francês TV5 Monde por um período de seis meses, acusando-o de ter difundido “comentários tendenciosos”, após um programa sobre a situação de segurança no país. O exército veio prontamente desmentir a notícia que dava conta de um “motim” nos quartéis, uma semana depois de um dos ataques jihadistas mais mortíferos.

A suspensão da TV5 Monde, que também foi multada em 50 milhões de francos CFA (cerca de 81.500 USD), segue-se a uma longa lista de meios de comunicação social estrangeiros, principalmente franceses, que foram suspensos temporária ou definitivamente desde que o capitão Ibrahim Traoré chegou ao poder através de um golpe de Estado em Outubro de 2022.

Num comunicado publicado na terça-feira à noite, o Conselho Superior de Comunicação (CSC) contestou uma edição do noticiário televisivo do referido canal de segunda-feira, que “convidou Newton Ahmed Barry”, jornalista e antigo presidente da comissão eleitoral do Burquina Faso entre 2014 e 2021, crítico do regime militar actualmente no poder.

No programa, Newton Ahmed Barry foi questionado sobre a situação da segurança no Burquina Faso, uma semana após um ataque jihadista contra soldados e civis em Mansila (nordeste do país, junto à fronteira com o Níger), reivindicado pelo Groupe de Soutien à l’islam et aux musulmans (GSIM, afiliado da Al-Qaeda).

O CSC afirma ter “constatado insinuações maliciosas e comentários tendenciosos que roçam a desinformação bem como afirmações susceptíveis de minimizar os esforços desenvolvidos pelas autoridades de transição, pelas forças de defesa e segurança e pela população na reconquista do território nacional.”

De acordo com uma fonte diplomática africana, nos últimos dias, várias dezenas de instrutores russos chegaram à capital burquiname provenientes do Mali, na sequência do ataque a Mansila. Uma fonte independente confirmou a chegada destes instrutores, termo geralmente utilizado para designar os antigos mercenários russos da Wagner, agora reorganizados no âmbito do novo modelo de influência russa em África, o Africa Corps.

Não há balanço oficial

Num comunicado de imprensa divulgado na terça-feira à noite, o exército burquiname qualificou de “infundados e falsos” os “rumores que circulam nas redes sociais” dando conta de “motins em certas casernas militares” desde há vários dias. “O Chefe do Estado-Maior do Exército tranquilizou a população, negando os rumores”, acrescentou.

Recorde-se que a TV5 Monde já tinha sido suspensa durante quinze dias, a 28 de Abril, por ter difundido um relatório da Human Rights Watch que acusava o exército de “abusos” contra civis. O seu site foi suspenso pelas mesmas razões “até nova ordem”.

Refira-se que o Burquina Faso – tal como os seus vizinhos Mali e Níger – é fustigado há quase dez anos por ataques de grupos jihadistas que causaram mais de 20.000 mortos e dois milhões de deslocados. As autoridades reivindicam regularmente vitória sobre os jihadistas, mas os ataques continuam e uma parte do território continua fora do controlo do exército.

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