Experiência governativa bandeira dos 4 principais candidatos à presidência da Nigéria
O país mais populoso de África, a Nigéria, vai às urnas no próximo dia 23 de Fevereiro. Irá votar-se para eleger um Presidente, um Vice-Presidente, membros do Senado e da Câmara dos Representantes. O actual presidente, Muhammadu Buhari, não poderá voltar a candidatar-se por imperativos constitucionais.
O Presidente da Nigéria é eleito através de um sistema de duas voltas. Para ser eleito à primeira volta, o candidato deve obter a maioria dos votos e mais de 25% dos votos em pelo menos 24 dos 36 estados da federação. Se nenhum candidato ultrapassar esse limiar, haverá lugar a uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados.
Os candidatos ao mais alto cargo da nação são 18 candidatos – apenas um é do sexo feminino – mas só quatro têm possibilidades de vencer: Bola Tinubu do Congresso All Progressives (APC) no governo; Atiku Abubakar do Partido Popular Democrático (PDP), o principal da oposição; Peter Obi do Partido Trabalhista (LP); e Rabiu Musa Kwankwaso do Novo Partido Popular da Nigéria (NNPP). Apesar do apelo à candidatura de líderes de uma nova geração, Peter Obi, de 61, anos, é o mais jovem dos quatro.
A par dos desafios económicos e de segurança, os principais candidatos utilizaram como porta-estandarte a sua experiência governativa. Os quatro com maiores hipóteses serviram a IV República da Nigéria, três como governador de estado e um como vice-presidente.
Peter Obi foi eleito governador de Anambra, um estado localizado no sudoeste do país, pelo All Progressives Grand Alliance em 2006, tendo deixado o PDP na véspera das primárias presidenciais no início deste ano para concretizar as suas ambições políticas Caminho semelhante teve Rabiu Kwankwaso, que foi eleito duas vezes governador de Kano, um estado do norte, como membro do PDP, mas depois abandonou este partido para formar o NNPP. Rabiu também contestou as primárias de 2015 que elegeram Buhari, hoje na presidência. Atiku Abubakar, que ficou em terceiro lugar nas últimas presidenciais, em 2019, procura agora chegar presidência pela segunda vez consecutiva. Naquela eleição teve ao seu lado Obi, hoje adversário. A sua primeira incursão na procura da presidência na actual dispensa democrática foi em 2007, quando foi apoiado pelo Congresso de Acção. Ele próprio, pelo APC, facilitou a evolução da oposição através da fusão de quatro partidos que criaram o actual partido no poder.
A insegurança é uma das principais preocupações dos eleitores, num país que atravessa actualmente uma onde de raptos exigindo resgates e luta contra uma insurreição islâmica em certas partes do norte. Dois dos casos mais chocantes ocorreram o ano passado, nomeadamente um tiroteio em massa contra crentes numa igreja Católica em Owo e um ataque a um comboio de passageiros, que fez dezenas de mortos.
A economia é outra preocupação. Em 2022, a inflação agravou-se durante 10 meses consecutivos, situando-se em 21,3%, de acordo com os últimos números divulgados este mês. Este aumento do custo de vida deixou muitas famílias numa luta constante pela sobrevivência, com os media locais a descreverem a situação como “terrível”. O desemprego, segundo o Gabinete Nacional de Estatística do país, situa-se nos 33% da população, resvalando para os 42,5% no caso dos jovens adultos.
A somar a tudo isto a Nigéria enfrenta também uma crise ambiental, com cheias a subsumir partes do país, tendo sido deslocadas milhões de pessoas das zonas críticas.
Apesar de ser um grande produtor de petróleo, quatro em cada 10 nigerianos vivem abaixo do limiar da pobreza e “carecem de educação e acesso a infra-estruturas básicas, tais como electricidade, água potável e saneamento melhorado”, de acordo com o Banco Mundial.
A maior parte dos candidatos colocaram estas questões no centro das suas campanhas, mas estes problemas têm vindo a agravar-se nos últimos anos, deixando muitos nigerianos cépticos sobre se o vencedor será capaz de os resolver. Apesar do grande número de eleitores recenseados – 93,5 milhões – persiste a ideia que poderá ocorrer um grande nível de abstenção.